sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Busca.


Busca,
Incessante busca,
O quício do presente para com o futuro,
Amarga,
Amarga busca,
Fez-me perder para o destino,
Perder você,
Doce,
Doce busca que aceita o inacabado,
E cessa a lágrima da inconstância,
Busca,
Tola busca,
De não ser como se quer,
E não aceitar quem sem é.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sala de jantar.


De repente ficou toda cheia, composta por filhos e netos,
Cobria a mesa uma toalha toda quadriculada em cores azuis e brancas, que suportavam os alumiados dos recipientes,
Os mais velhos acomodaram-se na ponta como mandava a tradição hierárquica familiar,
Formando assim a comunhão só sanguínea,não de coração,
A árvore daquelas ligações estava regada e sem folhas,
Sem frutos e sem vida,
Estava velha,
Composta de desconhecidos que cumpriam o dever hipócrita da unção,
Ela, testemunha sempre presente, já a presenciara viçosa e harmônica,
E não negava certa tristeza,
Acabara o amor, soltara-se os leões nos quintais,
Plantaram-se sementes de desencontro, e estavam ocupados em nascer e morrer,
De repente suspirou esperançosa, e foi se esvaziando aos poucos, agora já limpa e solitária, dormia calma esperando mais um desencontro acontecer.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

De te esperar.



A minha alma é como uma porta sem maçanetas,
Dificulta entradas, impossibilita saídas,
Emperra-se na dor de esperar sua entrada tão inesperada,
Escancara-se na ânsia da sua permanência quase sempre impermanente,
Deixa feixes iluminados de esperança,
Assim como há dias que fecha toda, deixando a escuridão amadeirada permanecer adentro,
Adentro do meu âmago onde mora o meu amor,
Onde reside minha casa, que me fecha os olhos para ver o jardim afora,
Tem dias molhados, chuvosos de lágrimas de solidão,
A minha alma é como uma porta sem maçanetas,
E busca saídas inexatas para sempre manter-se aberta.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Nova chance.


Só viu a imagem da rua embaralhar-se,
A cor acinzentada foi tomando conta de todos os objetos, deixando-os quase irreconhecíveis,
O corpo gelou-se, a cor vermelha escorreu-se pelas pernas cobertas de pelo,
De repente uma voz conhecida, desesperada, pedindo por socorro,
Mas por dentro parecia tudo tão calmo, será que Mamãe estava brigando de novo com papai?
Até que a realidade pareceu muito clara, e o ator principal desejou ser coadjuvante,
Sentiu os rastros de vida que lhe escorriam pelo corpo resistente,
E por um milésimo de segundo percebeu que era o momento de despir-se da vida,
Dos amores, dos amigos, dos sonhos, das desilusões,
Era preciso aproveitar o último momento, o que em vida era quase impossível,
Tantas preocupações, trabalho, formação, graduação, construção do eu,
E agora o que restara era uma lembrança desorganizada e um desespero de querer voltar,
Sim, a palavra voltar tornou-se a mais importante, voltar e remediar,
Voltar e abraçar, voltar e perdoar, voltar e demonstrar coisas do coração,
O tempo tinha lhe roubado toda a oportunidade de recomeçar,
E ele roubara do tempo toda a oportunidade dada para sorrir e usada para odiar,
Com a testa ainda suada virou-se para o espelho da cabeceira da cama e aliviado abriu um sorriso para a vida.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Desencontro...


A madrugada saboreia a noite, mas ama o crepúsculo,
Desafia o tempo e a distância, e sacia a vontade de querer sempre só,
Certa vez lhe disse uma estrela, que a noite era feita para ela,
Mas a madrugada esperançosa respondeu: Não existe razão para um amor como o meu,
E assim percorre a linha vertiginosa do amor, a madrugada idealiza o crepúsculo,
E as vezes se sente só ao amanhecer...

Imagem: Giovanni Bálico.